Não ao “novo” normal, sim à um normal de verdade
Escrevi um artigo no mês passado, em um dos maiores jornais do país, questionando este “novo” normal e recebi muitas mensagens de pessoas concordando e poucos discordando.
Na sua concepção, que é este “novo” normal? Dizem que após a pandemia e a quarentena voltaremos mais conscientes, mais sustentáveis, mais digitais e com mais discernimento de algumas atitudes.
Muitos, que puderam ficar em casa, acabaram estudando via internet, ajudando os seus filhos na educação em casa, comprando via aplicativos do celular, ajudando as lojas e restaurantes do seu bairro, comprando de pessoas que faziam comida, etc. E, além de tudo, fazendo muitas doações. Segundo o Monitor das Doações da ABCR (https://www.
Mas o questionamento não é em relação a estas mudanças de comportamento durante a pandemia, pois realmente nunca tínhamos passado por uma situação parecida com esta nestes tempos modernos. Temos, na verdade, que perguntar ou ficar indignados pois não podemos chamar de normal os tempos antes da quarentena. Se chamarmos o antes de normal, estamos aceitando e consolidando a enorme desigualdade social; a morosidade pelas questões ambientais como o desmatamento e o aquecimento global; a crescente polarização, ódio e linchamento nas redes sociais; o racismo em todos os seus níveis; a preocupação do crescimento pelo crescimento, sem o foco na humanidade; o consumo inconsciente; entre outros grandes desafios das nossas gerações.
Estas “normalidades” podem ser aceitas por pessoas que acreditam em um mundo que não se pode mudar, influenciar, mobilizar ou normalizar. “Isso é coisa de sonhador, Marcus”, já me disseram várias vezes. “O mundo é assim e ponto”. “O sistema funciona assim”. “Não dá para mudar”. “Cresça e seja adulto, Naka”. “Mudar para quê? Se está bom assim”. Pois é, muitas destas frases que já escutamos e que continuamos “normalmente” ouvindo. Anormalidades, não é?
E o mais estranho é que continuamos assistindo nas telas pessoas inconformadas com estes “normais” como em Matrix e Star Wars, ou ainda, nas séries 3% e Expresso do Amanhã, da Netflix. Talvez seja exagero cinematográfico e mercadológico uma revolução armada, mas muito interessante focar o direcionamento para um verdadeiro normal em busca de reais melhorias para todos e para o planeta.
Neste final de junho e começo de julho tivemos várias conferências e webinares de organizações que estão nesta trilha em busca desta “Normal Idade” (era do normal) como a Conferência do Instituto Ethos (https://www.conferenciaethos.
Sim, será NORMAL quando conseguirmos fazer com que todos conheçam, entendam e pratiquem os Direitos Humanos e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Nestes documentos está o que, racionalmente, muitos países e pessoas se juntaram para falar o que seria normal para as pessoas e planeta. São metas, indicadores e paradigmas para serem trabalhados. Gosto de falar que é um “sonho comum” da humanidade. Temos que evoluir todos juntos, regenerar o planeta e buscar soluções inclusivas, equitativas, em larga escala e para todos.
Buscar um normal de verdade, talvez seja este “propósito” que muita gente está procurando alcançar em livros, cursos, workshops e palestras. Fazer acontecer um normal de verdade é o que temos que realizar no nosso dia a dia. Em cada escolha, em cada compra, em cada ação nossa.
Ah, comece já parando de falar deste conceito “novo” normal!
* Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).
www.marcusnakagawa.com, www.blogmarcusnakagawa.com;
@ProfNaka