Ser modelo negra no Brasil


modelos-negras-passarela

“Você olha ao redor e não vê nenhuma negra, a única negra que estou vendo aqui sou eu”, conta Mariane Calazan no backstage do SPFW

 

Meninas, hoje foi feriado da Consciência Negra em alguns estados brasileiros e busquei pela net alguns dados a respeito de a quantas anda a situação das modelos negras no mercado de trabalho.

Achei super interessante este post do  Blog LP

Confiram:

“Rolou mais uma temporada do SPFW nesse mês e, novamente, o número demodelos negros nos desfiles foi baixíssimo. Dos 35 desfiles apresentados, 9 marcas não trouxeram modelos negros às passarelas e o recorde de negros desfilando na temporada – apesar de muito pequeno – foi nos desfiles da Ellus e Cavalera, cada uma com 7 negros no casting em desfile com 46 e 49 looks, respectivamente. Essa questão ganhou força na moda brasileira em 2009, depois de uma temporada de desfiles que contou com apenas 8 modelos negros entre 344 – um número não muito distante deste outono-inverno 2015.

Na ocasião, o MPS (Ministério da Previdência Social) fechou um acordo com aLuminosidade, empresa responsável pelo SPFW e Fashion Rio, de que 10% das modelos de cada desfile precisariam ser, necessariamente, negras ou de descendência indígena, e caso alguma marca não cumprisse o acordo a organização estaria sujeita a uma multa de 250 mil reais. Esse TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) teve a duração de apenas dois anos, terminando em 2011. Blog LPconversou com a assessoria de imprensa da Luminosidade para saber se a empresa ainda mantém algum tipo de medida de inclusão nos desfiles: “Apesar do TACnão estar em vigor atualmente, o SPFW e o Fashion Rio recomendam que as marcas mantenham a cota que foi estabelecida anteriormente. Como o evento não é responsável pela contratação das modelos, não tem como impor isso”.

As cotas raciais em desfiles causaram alarde na época mas, tanto prasagências quanto pras modelos, a situação atual não está clara. “Não sei se a cota está na lei, pois já vi marcas que não tem nenhuma modelo negra”, conta a modeloMariane Calazan. Pro diretor da Way Model, Anderson Baumgartner, este é um ponto que deve ser repensado: “Acho que a cota ainda existe sim, os estilistaspedem para que levemos modelos negras nos castings pois, se não me engano, 20% do desfile deve ser composto por modelos negras. Mas acho essa questão complicada, pois nos faz questionar se a menina está sendo escolhida porque é realmente boa. Tenho uma modelo, a Ana Bela Santos, que está no mercado há 12 anos, e me disse um dia: ‘Acho isso errado porque não vou saber se o estilista me quer ou se ele está sendo obrigado a me colocar no desfile’, e isso acaba sendo uma grande verdade”.

O estilista Fernando Cozendey, da Casa de Criadores, trouxe em seu último desfile um casting repleto de modelos com um padrão pouco, ou nunca, visto nas passarelas do SPFW e Fashion Rio, independente de qualquer cota – deficientes, trans, plus size… “Não gosto muito dessa palavra ‘cota’, mas se for um processo necessário pra acontecer uma inserção maior… Acho que é um desenvolvimento que precisa partir da mídia, não só de revistas e sites, mas também do mercado da beleza. Quanto mais se fala nisso, mais as pessoas abrem a cabeça. Na CdC vejo mais negras, já nos eventos maiores dá a impressão de que é uma obrigatoriedade e não algo que as marcas acreditam que seja algo bonito. Aí que mora o problema, por que acham que a negra não vende? Precisamos pensar, na verdade, repensar”. Fernando completou que o problema vai além: “Obrasileiro não tem orgulho da própria etnia, tem medo e complexo de inferioridade. A elite brasileira é muito preconceituosa, não querem vestir o que uma negra está usando e sim o que a europeia magérrima veste. Mas não tem como, o Brasil não é isso”.

No ponto de vista do booker e scouter da Way, Anderson, esta é uma questão pouco relacionada à cor da pele das modelos em si: “Sem hipocrisia alguma, seleciono as modelos pelo potencial e não pela cor da pele. Elas são apresentadas nos castings como modelos e não como negras. Levamos aquelas que tem o perfildo desfile, e acontece que não aparecem tantas modelos negras com o perfil que aagência procura. No esporte, 90% das atletas são negras, acho que o preconceitoestá na cabeça das pessoas, uma ou outra marca não contrata mesmo, mas não acho que o mercado seja preconceituoso com isso como todo mundo pensa. É como quando as empresas não contratam gays etc., são exceções. Sou quase negro, pra me defender. Mas essa é a minha visão como booker e scouter, não como marca”.

Do lado das modelos negras, a visão é diferente quando o assunto é a escassez daetnia na passarela: “O que mais acontece é que o mercado não vê as modelos negras como as outras. Vejo e sinto que tem quem prefira não colocar uma modelo negra pra usar a roupa da sua marca. Não adianta uma agência ter 20 modelos negras sendo que no casting pra um desfile vão pegar apenas uma. É mais uma questão do mercado do que da agência. Tem clientes que aceitam muito bem, querem que a gente cresça e esteja mais inserida, uns ou outros ainda não conseguiram colocar isso na cabeça”, explica Mariane Calazan.

Além das passarelas, o número baixo de negras é bem concreto em plenobackstage lotado do SPFW, o que nos fez questionar à Mariane se na agência dela, a Way Model (que conta com aproximadamente 300 modelos), a maioria das modelos eram brancas, ou se o essa falta era apenas nas modelos selecionadas pra desfilar na temporada: “Se tiver 5 negras é muito, pois não acho que uma menina parda é negra. A menina parda é parda e a negra é negra, não tem como generalizar isso. Aqui, por exemplo, você olha ao redor e não vê nenhuma negra, a única negra que estou vendo aqui sou eu”. Pra Natiele, da Joy Model, que começou há apenas 7 meses, a sensação é semelhante: “No começo já senti a dificuldade, pois o mercado pra negras é bem restrito. Vejo uma mudança, vejo modelos em catálogos, e até na parte comercial acho que a quantidade está aumentando, com meninas de cabelo black etc. Acho que esse número baixo é um problema que vem do Brasil, não das marcas em si. Mas falta um pouco das meninas correrem atrás porque, mesmo que seja um mercado restrito, tem oportunidades“.

Carola, de 20 anos, também da Joy Model, vê que a situação vai muito além do mercado da moda, das agências e marcas. Com lágrimas nos olhos, a modelo afirmou pro Blog LP: “Não é falta de modelos negras em desfiles… Simplesmente não existe, não tem. Não tenho nem o que falar. Acho que enquanto nós não fizermos alguma coisa pra mudar o Brasil, essa situação não vai deixar de existir, e a sensação é de que nunca vão ter mais do que duas negras na passarela”. “

 

Posts Relacionados

LEAVE A COMMENT

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Autora


ViCk Sant' Anna

Facebook FanPage

Conheça mais

Parceiros